A descarbonização da agricultura brasileira já faz parte do dia-a-dia de muitos pesquisadores e produtores há algum tempo. Tanto que há a promoção e desenvolvimento de muitas pesquisas e tecnologias que visam a redução da emissão de gases de efeito estufa e aumentam o sequestro de carbono na produção agropecuária.
A Embrapa, por exemplo, vem realizando várias discussões e pesquisas relacionadas a um novo “produto”, citado como leite de baixo carbono e decorrente da descarbonização da produção de leite.
“Nós estamos estudando indicadores de sustentabilidade e a implementação de boas práticas de produção que vão integrar um protocolo nacional pioneiro para a produção leiteira”, indicou Celso Moretti, presidente da Embrapa, em coletiva de imprensa realizada no dia 27 de abril por ocasião das comemorações dos 48 anos da Embrapa.
Descarbonização da produção de leite: o que é e porque investir no leite de baixo carbono?
Na agropecuária, a descarbonização é caracterizada pela adoção de variadas tecnologias e boas práticas - como sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), recuperação de pastagens degradadas e uso de aditivos na nutrição – que são capazes de compensar as emissões de gases de efeito estufa geradas pela pecuária.
Essas medidas ajudam também a tornar o sistema de produção mais resiliente, trazendo vantagens econômicas para o produtor.
Assim, André Novo, Chefe de Transferência de Tecnologias da Embrapa Pecuária Sudeste, explica que a questão da descarbonização reflete a preocupação em reduzir o impacto ambiental da produção agropecuária em particular relacionados às mudanças climáticas.
“No caso da pecuária leiteira, a ideia é buscar a máxima eficiência tanto para reduzir as emissões de GEEs (gases de efeito estufa) quanto para aumentar a eficiência dos processos produtivos que retiram o carbono da atmosfera”, cita.
Além disso, a sociedade está cada dia mais preocupada com as questões ambientais e os ruminantes são naturalmente emissores de metano, um dos GEEs que podem colaborar para o aquecimento global. Por isso a adoção de sistemas mais eficientes são recomendações importantes na concepção de André Novo.
“Sistemas mais eficientes, que reduzam a pegada ambiental e retirem da atmosfera CO2, podem ser neutros quando consideramos o balanço do sistema. Com isso, há possibilidade de agregar valor à produção por meio de selos de baixa emissão (leite baixo carbono) ou mesmo balanço zero (leite carbono zero)”.
A Embrapa criará protocolos e uma calculadora de descarbonização da produção leiteira
Para promover projetos de descarbonização da produção leiteira, a Embrapa, com apoio da iniciativa privada, iniciou o processo de traduzir o conhecimento de algumas pesquisas realizadas anteriormente (Projeto PECUS) em diretrizes e protocolos específicos e direcionados à pecuária leiteira.
Para isso, André Novo indica que estas diretrizes e protocolos serão a base para desenvolver uma calculadora do balanço entre emissões e sequestros de cada propriedade leiteira.
Os protocolos serão elaborados por bioma e por sistema de produção, sob responsabilidade da Embrapa Pecuária Sudeste (SP) e servirão de base para uma calculadora de balanço dos gases de efeito estufa (GEE) e um sistema digital de monitoramento através de aplicativo, elaborados pela Embrapa Agropecuária.
A calculadora conseguirá contabilizar o balanço de carbono nas propriedades, permitindo aos produtores compreender melhor onde estão concentradas suas emissões, contribuindo para uma tomada de decisão mais assertiva para reduzi-las.
“Esta ferramenta será ainda validada em diferentes regiões antes de ser disponibilizada aos demais laticínios e produtores interessados”, completa Novo.
Produtores de leite terão remuneração diferenciada com o leite de baixo carbono
Apesar de representar um projeto fundamental para promover a descarbonização da produção leiteira, André Novo ressalta que essas ainda são ferramentas em fase de desenvolvimento e, portanto, sujeitas a várias alterações antes de serem totalmente aplicáveis para todo o setor produtivo do leite.
Mas a expectativa do projeto é que isso possibilite que o produtor seja remunerado pela empresa ao demonstrar que está priorizando a descarbonização e produzindo um leite de baixo carbono. Por consequência isso vai melhorar a competitividade do produtor de leite no Brasil.
Por enquanto, o projeto relaciona-se a produtores fornecedores da empresa parceira da Embrapa, como explica o Chefe de Transferência de Tecnologias da Embrapa Pecuária Sudeste.
“No momento, fornecedores de leite da empresa parceira (Nestlé) interessados em fazer parte da validação poderão manifestar interesse diretamente com a indústria”, explica Novo.
Essa iniciativa está alinhada com as políticas públicas do setor para redução das emissões de gases de efeito estufa, como o Plano Nacional de Adaptação e Mitigação de Gases de Efeito Estufa na Agropecuária (ABC+ 2020-2030) apresentado em 20 de abril pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), uma atualização do Plano ABC executado de 2010 a 2020.
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