Rica em proteína, resistente a secas e, ainda, ajuda na fixação de nitrogênio nas pastagens: essas são as características da nova cultivar de amendoim forrageiro desenvolvida pela Embrapa e que pode impactar a produtividade animal.
Conhecida como BRS Oquira, essa cultivar é resultado de 15 anos de avaliação e seleção de materiais genéticos realizada pela parceria entre a Embrapa Cerrados (DF), Embrapa Amazônia Oriental (PA), Embrapa Pecuária Sudeste (SP) e Embrapa Gado de Corte (MS).
Para conhecer melhor as características e vantagens desta cultivar, conversamos com Giselle de Assis, Pesquisadora em Melhoramento Genético de Forrageiras da Embrapa Acre e coordenadora do Programa de Melhoramento Genético do Amendoim Forrageiro.
BRS Oquira: para que serve a nova cultivar de amendoim forrageiro desenvolvida pela Embrapa?
A BRS Oquira é recomendada para uso nos biomas Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado. Resultado de avaliação e seleção de materiais genéticos, a nova cultivar foi testada nas condições de clima e solo destes três biomas, destacando-se, principalmente, pela alta concentração de proteína, elevada produtividade de forragem e maior tolerância à seca.
Essa cultivar foi recentemente lançada durante o dia de campo na área experimental da Embrapa Acre, e já está registrada no MAPA. A BRS Oquira será comercializada, inicialmente, por viveiristas de três estados: Acre, São Paulo e Ceará.
Principais características da BRS Oquira
Durante os 15 anos de pesquisa, a BRS Oquira se destacou por algumas características bastante importantes para a alimentação de bovinos, equinos e ovinos.
Primeiro, a pesquisadora e coordenadora do projeto ressalta a alta produtividade de forragem e a maior tolerância à seca, quando comparada a outras cultivares. “No Cerrado, apresentou produtividade que variou de 10 a 13 toneladas de matéria seca (MS)/ha/ano e na Amazônia produziu de 13 a 16 toneladas de MS/ha/ano de forragem”, indica Giselle.
Já em sistemas intensivos de produção na Mata Atlântica, onde se utiliza adubação frequente e irrigação, essa cultivar atingiu produtividades de até 20 toneladas de matéria seca/ha/ano e elevado valor nutritivo, compatível com o da alfafa, considerada a rainha das leguminosas.
“Em sistemas convencionais apresenta 22% de proteína bruta na MS e 68% de digestibilidade, podendo atingir teores ainda mais elevados (até 29% de proteína bruta e 75% de digestibilidade) quando cultivada em sistemas intensivos”, complementa a pesquisadora.
Na época seca, além da perda de folhas, essa cultivar apresentou secamento dos caules. Porém, ela foi capaz de rebrotar vigorosamente com o reinício das chuvas, mesmo no Cerrado, região com período de seca mais prolongado.
Ao ser comparada com outras cultivares, a BRS Oquira manteve alta cobertura do solo e maior vigor de suas plantas durante todo o período seco do ano.
Por fim, ela pode ser cultivada em pastagens sujeitas ao encharcamento temporário do solo, inclusive em regiões onde ocorreu a degradação da pastagem causada pela síndrome da morte do braquiarão.
Ótima estratégia de adubação natural do solo
A cultivar BRS Oquira também tem a capacidade de realizar a fixação biológica de nitrogênio nas pastagens, processo que melhora a fertilidade do solo e contribui para o desenvolvimento das plantas.
“Por ser uma leguminosa, o amendoim forrageiro é capaz de formar associações com bactérias do solo que retiram o nitrogênio do ar e o disponibilizam para as plantas, por meio do processo conhecido como fixação biológica de nitrogênio”, explica Giselle.
Assim, a introdução natural do nitrogênio no sistema aumenta a quantidade e a qualidade da dieta ofertada aos animais, resultando em aumento da produção de carne e leite, além de trazer benefícios diretos para a pastagem, que se torna mais longeva e produtiva.
“A adubação natural com nitrogênio traz economia para o produtor, que mantém a sua pastagem produtiva sem ter gastos com a aquisição e aplicação de fertilizantes químicos nitrogenados”, complementa a pesquisadora.
Recomendações para uso da nova cultivar
A Embrapa indica que essa cultivar funciona muito bem em pastagens consorciadas (capim + amendoim forrageiro) para alimentação animal.
“A BRS Oquira apresenta elevada compatibilidade com diferentes espécies de gramíneas forrageiras, como as cultivares braquiarinha, brachiaria humidícola, Xaraés, Marandu, grama estrela roxa, e até mesmo com cultivares de porte mais alto, como Mombaça, BRS Quênia e BRS Zuri”, salienta Giselle.
Pode também ser fornecida para bovinos, caprinos, ovinos e equinos, além de ser estabelecida em bancos de proteína para vacas leiteiras ou fornecida no cocho em forma de forragem verde picada, feno ou silagem. Além disso, a BRS Oquira responde muito bem quando cultivada em sistemas intensivos de produção, em substituição à alfafa.
Giselle de Assis indica, ainda, o cultivo nos biomas Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado, preferencialmente em solos de média fertilidade. “Não deve ser plantada em solos muito arenosos, especialmente em regiões com longos períodos de seca”, sugere a pesquisadora.
Como deve ser feito o plantio na fase inicial?
Seu plantio deve ser feito por meio de mudas, comercializadas por viveiristas licenciados pela Embrapa. A especialista recomenda, primeiramente, a formação de viveiros da BRS Oquira na propriedade rural, para posterior introdução nas pastagens.
“O plantio deve ser realizado na estação chuvosa, quando o solo apresentar elevada umidade, garantindo, assim, adequada brotação e desenvolvimento das plantas”.
Importante ressaltar que a formação de pastos consorciados com amendoim forrageiro requer um pouco mais de atenção e planejamento do que pastos puros de capim. Por isso, é essencial realizar todas as etapas desse processo, considerando as recomendações técnicas que vão garantir a eficiência máxima da tecnologia.
Mas há a certeza de que o esforço do produtor será recompensado no médio e longo prazo, com uma pastagem mais produtiva, resistente e persistente, autossuficiente em nitrogênio e com baixo custo de manutenção.
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