O Brasil é um dos maiores produtores mundiais no plantio de mandioca, com uma produção de 18 milhões de toneladas. No país, essa cultura se insere no contexto social e econômico de agricultores, principalmente daqueles com menor capacidade de investimento em tecnologias.
Além da sua importância socioeconômica, a mandioca também possui características culturais, evoluindo junto com o povo brasileiro, sendo cultivada tanto em plantios industriais, como na agricultura familiar.
Essa cultura caracteriza-se por garantir a colheita, devido ao baixo risco de perda. Também é resistente à acidez do solo e proporciona aproveitamento integral.
Importância socioeconômica para agricultores
Dentro da economia rural brasileira, a mandioca é um dos principais meios de sobrevivência da população rural, não só por ser uma planta adaptável aos diversos ecossistemas, mas também pelos seus múltiplos usos.
Marcelo Romano, pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, explica que a mandioca é uma importante fonte de energia para humanos e animais.
“A mandioca é consumida fresca ou processada, na forma de farinha ou fécula (tapioca, pão de queijo etc.). Já a parte aérea da mandioca é rica em proteína, sendo considerada um ótimo alimento para criação animal”.
O pesquisador salienta ainda que cerca de 85% dos agricultores familiares do País cultivam a mandioca, que está entre os cinco produtos de maior valor bruto da produção (VBP) da agricultura familiar.
“A mandioca é de grande importância social e econômica por ser um cultivo de segurança alimentar e nutricional, além de elevar a geração de emprego e renda dos pequenos agricultores”, complementa.
A mandioca pode ser dividida em 2 tipos
No Brasil, Marcelo Romano explica que é possível dividir a mandioca em dois tipos. “Essa divisão ocorre em função do teor de cianeto (HCN) nas raízes”, salienta.
Mandiocas mansas, também conhecidas como aipim, macaxeira, de mesa, doce. Concentram teores abaixo de 100 ppm de HCN na raiz e que podem ser consumidas após simples cozimento;
Mandiocas bravas, também conhecidas como de indústria ou amarga. Concentram cianeto acima de 100 ppm, mas que após o processamento industrial são desintoxicadas e não trazem nenhum risco à saúde.
“Um sinal da presença do HCN é o sabor amargo da raiz. O cozimento não é uma forma eficiente de se eliminar o HCN”, complementa Romano.
Passo a passo para realizar o plantio de mandioca
Os cuidados relacionados ao plantio da mandioca são essenciais para maior produtividade. Assim, os cuidados com o preparo do solo e os relacionados à adubação e colheita são essenciais para o sucesso da cultura. Veja:
Escolha da área e preparo do solo
A mandioca pode ser cultivada nos mais variados tipos de solo e pela sua rusticidade é capaz de produzir em solos ácidos e de baixos teores de fósforo, com baixa fertilidade. “A mandioca produz em condições que a maioria das culturas não produziriam nada ou muito pouco”, complementa Romano.
No entanto, para se obter boas produtividades e dar sustentabilidade à atividade agrícola, o pesquisador indica algumas dicas quanto à escolha da área e ao preparo do solo.
“Por ser a raiz o produto de interesse, os solos de textura média até próximo dos arenosos são os mais indicados por apresentar maior circulação de água e ar. Em área inclinada e com solo arenoso, devem-se adotar práticas conservacionistas, como o terraceamento e o plantio em nível”.
O preparo do solo visa eliminar qualquer impedimento físico em subsuperfície, sendo recomendada a subsolagem da área seguida de gradagem niveladora, quando for plantio mecanizado, ou a abertura de sulcos ou covas, quando for plantio manual.
O pesquisador explica que a mandioca demora cerca de 120 dias para cobrir totalmente o solo da entrelinha. Essa característica planta expõe o solo aos processos erosivos iniciados pelo impacto da gota da chuva e à matocompetição.
“Diante dessa característica, a escolha de área com pequeno banco de sementes de plantas daninhas no solo e a consorciação com culturas de rápido crescimento (feijão, amendoim, milho) são boas dicas para quem vai iniciar um novo cultivo de mandioca”, sugere Romano.
Plantio de manivas
No Brasil, a forma de plantio mais comum é com a deposição horizontal das manivas em sulcos ou covas com 10 cm de profundidade.
Para maior eficiência dessa etapa, o pesquisador da Embrapa sugere que as ramas (caules), que serão seccionadas em manivas, devem:
- Ser retiradas de plantas sadias e inspecionadas para doenças e pragas durante todo ciclo;
- Com 10 a 12 meses de idade;
- Maduras (sem folhas);
- Compreender a porção do caule entre 15-20 cm acima do solo e a primeira ramificação, com diâmetro variando entre 2,0 e 3,0 cm.
As manivas, que devem ter de cinco a oito gemas (17 a 20 cm) com corte reto das extremidades, devem ser plantadas em até 24 horas após o seu preparo.
O plantio deve ser realizado com solo úmido e dentro do período de chuvas regulares. O espaçamento varia em função da fertilidade do solo, porte da variedade e finalidade de uso, sugerindo-se um espaçamento padrão de 1 m x 1 m (10.000 pl ha-1).
Adubação
Apesar da sua rusticidade, Marcelo Romano explica que a mandioca é uma planta que extrai muitos nutrientes do solo.
“Além da exportação dos nutrientes para as raízes, a parte aérea é normalmente utilizada como material propagativo (manivas) para novos plantios. Por consequência, pouco dos nutrientes absorvidos são restituídos ao solo”.
Por isso, o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura diz que é fundamental adotar um programa de manejo da fertilidade do solo com cultivo de mandioca.
“A amostragem do solo para análise da fertilidade química deve ser realizada a cada dois anos. E as recomendações de calagem e adubação devem se basear em manuais oficiais e tabelas técnicas”, sugere.
O pesquisador também ressalta que a mandioca é altamente dependente de micorriza, mas é o fósforo aplicado que apresenta a maior resposta entre os nutrientes. “A fonte de fósforo deve ser aplicada toda por ocasião do plantio”.
Devido ao crescimento inicial lento, recomenda-se a aplicação de nitrogênio e potássio em cobertura aos 45-60 dias após o plantio, podendo-se optar em solos arenosos pelo parcelamento da cobertura em duas aplicações, até 90 dias após o plantio.
Dentre os micronutrientes, o zinco merece atenção, principalmente quando as doses de calcário aplicadas são superiores a 1 t/ha.
“O zinco pode ser aplicado no plantio via formulação do adubo, por pulverização foliar ou por tratamento de manivas no momento do plantio”, recomenda Romano.
Colheita
Para Marcelo Romano, a colheita da mandioca de mesa deve ser iniciada o mais precocemente possível. “A colheita ocorre normalmente com nove meses após o plantio, indo até por volta dos 14 meses”.
Já o período de colheita da mandioca para fins de processamento industrial é, segundo o pesquisador, mais elástico. “Este período é iniciado normalmente aos 11 meses, para as cultivares precoces e sob ótimas condições edafoclimáticas, indo até os 24 meses de idade, quando as condições de crescimento não forem favoráveis”.
Outro fator que influencia muito a decisão de colheita é o preço da raiz.
“Quando esse não é favorável ao produtor na época de colheita do primeiro ciclo, a lavoura é conduzida até 18-24 meses, sendo normalmente realizadas a poda da mandioca para facilitar o manejo de plantas daninhas no segundo ciclo e a retirada de ramas para novos plantios, sempre se antecedendo à ocorrência de geada, na região Centro-Sul”, salienta Romano.
Ao seguir esses passos, certamente você terá um plantio e uma colheita bastante eficazes da sua cultura de mandioca, com ganhos produtivos e econômicos satisfatórios.
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