Com uma produção de cerca de 265 mil toneladas por ano, o Brasil é o sétimo maior produtor mundial de cacau, com grande tendência de crescimento.
Essa tendência é confirmada pela Comissão Executiva do Plano de Lavoura Cacaueira (Ceplac), cuja meta para o país é aumentar a produção em 60 mil toneladas até o ano de 2025.
Isso significa que investir no setor é uma excelente oportunidade de negócio. Mas para alcançar o sucesso com essa cultura, produtores devem priorizar todas as etapas do sistema de produção, do plantio à comercialização.
No artigo de hoje convidamos o produtor de cacau Robson Brogni, proprietário do Sítio Ascurra, a falar sobre duas etapas de grande importância na produção de cacau: a colheita e a comercialização.
Conhecendo os tipos de cacaueiros
A colheita é uma das etapas mais importantes para a obtenção de um fruto de cacau de qualidade superior. Mas para alcançar essa qualidade, é essencial conhecer os tipos de cacaueiros mais comuns.
Assim, os tipos de cacaueiros mais comuns são os seguintes:
- Criollo — produz os frutos mais nobres do mercado, com amêndoas grandes, claras e com sabor pouco amargo. Entretanto, este tipo é bastante sensível a doenças e apresenta baixa produtividade;
- Forastero — é o tipo mais comum de cacau, representando cerca de 80% da produção mundial, principalmente por ser o mais resistente a pragas e doenças. As amêndoas são achatadas, com média acidez e frutos na cor violeta;
- Trinitário — é resultado do cruzamento das duas variedades anteriores, produzindo frutos de excelente qualidade.
Época de colheita: Ponto essencial na produção de cacau
Outro fator bastante relevante é entender qual é a época de safra do cacau, que permite programar sua produção. Na grande parte do país, a safra principal ocorre entre outubro e início de dezembro.
Mas há alguns lugares onde há outra safra, chamada temporão, que acontece entre maio e agosto. Este é o caso da região do Sítio Ascurra, como explica Robson Brogni.
“Aqui na nossa região (Rodovia Transamazônica em Medicilândia no Pará) a safra principal do cacau é anualmente entre maio e agosto. Esse é o período onde conseguimos colher frutas com mais qualidade além, claro, de maior quantidade também”.
O produtor e proprietário do Sítio Ascurra ressalta também que há, esporadicamente, uma entressafra (safrinha) que ocorre entre novembro e janeiro. “Esse é um período que não ocorre todo ano”, complementa.
A colheita do cacau é 100% manual
Para realizar a colheita do cacau, não há o uso de equipamentos de alta complexidade e custo, já que este processo é 100% manual, como explica Brogni. “Infelizmente o cacau é uma cultura que ainda não é possível mecanizar a colheita”.
Na colheita, a recomendação é que os frutos nunca sejam arrancados manualmente. A retirada manual tem o potencial de danificar a casca e a almofada floral. Essa é a região onde nascem as flores e que dá origem aos frutos.
Esses danos à estrutura do cacaueiro também contribuem para atrair insetos e agentes causadores de doenças (como bactérias e fungos), comprometendo as próximas colheitas ou exigindo gastos extras com medidas de controle.
Após a retirada dos frutos, estes passam pelo processo de triagem, separando-os em três grupos:
- Frutos imaturos;
- Frutos maturados;
- Frutos passados e/ou com doenças.
O próximo passo da colheita do cacau é a retirada das amêndoas. Essa etapa pode ser realizada de forma mecanizada ou manual.
Nesta etapa, o interior da fruta é retirado e armazenado para que ocorra a fermentação, processo indispensável para a comercialização.
Após a etapa da colheita, Brogni indica que já existem algumas maneiras de mecanizar a mão de obra. “A “quebra do cacau”, a secagem e a seleção das amêndoas já secas antes da venda podem utilizar a tecnologia para otimizar estes processos”, diz.
Classificação dos tipos de amêndoas
Para uma comercialização mais efetiva do cacau há a necessidade de realização da classificação de suas amêndoas. Segundo Robson Brogni, essa classificação ocorre da seguinte forma:
Cacau comum (bulk):
As amêndoas não passam por nenhum tipo de manejo especial, ou seja, não são separadas as frutas sadias das frutas doentes e as frutas também não são colhidas de acordo com a maturação correta.
“No cacau comum, as amêndoas já vão direto da lavoura para a secagem sem nenhum beneficiamento especial”, explica Brogni.
Esse é o tipo de cacau com comercialização mais comum no Brasil.
Cacau Tipo 1:
As frutas têm o mesmo procedimento de colheita do “cacau comum”, mas para maior qualidade as amêndoas passam por uma fermentação básica antes de irem para a secagem.
Cacau Fino:
Brogni explica que na produção do cacau fino todo processo de beneficiamento tem um protocolo mais complexo e especial desde a colheita até a secagem das amêndoas.
“Todo esse processo é muito rígido, principalmente na seleção da maturação das frutas durante a colheita e durante a fermentação, onde há um acompanhamento especial principalmente na temperatura da massa do cacau no cocho de fermentação”.
Vale ressaltar que essa classificação é essencial para qualquer produtor de cacau, visto que ela influencia diretamente no preço das amêndoas.
No mercado brasileiro atual esse preço é praticamente igual entre o cacau comum e o cacau Tipo 1, prevalecendo um valor um pouco melhor para o cacau Tipo 1.
No caso do cacau fino, Brogni explica que esse ainda é um nicho de mercado no Brasil, mas altamente vantajoso.
“Quando o produtor consegue entrar nesse mercado a valorização do cacau fino em comparação ao cacau comum e cacau Tipo 1 é extremamente melhor, com o preço variando entre 50% e 100% a mais em relação aos outros tipos de cacau”, indica.
Muitas variáveis afetam o valor de comercialização do cacau
O preço do cacau comum para comercialização depende de muitas variáveis. Entre essas variáveis merecem destaque o valor do dia do cacau na bolsa de valores de Nova Iorque, além do preço do dólar.
“Basicamente são esses dois fatores que configuram o preço do cacau no Brasil, independente de qual seja a empresa compradora”, complementa Brogni.
Mas, quando falamos sobre o cacau fino, Brogni ressalta que o preço geralmente é feito pelo próprio produtor tendo como base o preço do cacau comum.
“O produtor configura esse preço levando em conta o mercado atual para o cacau fino, a qualidade de suas amêndoas e até as premiações que seu cacau possui”, concluiu.
Ou seja, o preço do cacau fino é bastante variável e depende do esforço do produtor, da origem geográfica do cacau e da qualidade das amêndoas.
Você pretende entrar no segmento? Então veja algumas dicas para você começar a plantar cacau.
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