Quem já leu alguma coisa sobre a minha história já deve saber que cresci como uma menina urbana, mas habituada a alguns costumes rurais. Há 40 anos, em plena capital paulista, eu brincava na casa de uma querida tia que tinha um pé de jabuticaba (ou jaboticaba, como preferir) que transpassava a laje de um pequeno quintal.
Adivinha: eu escalava a laje todo o santo dia só para comer jabuticaba direto do pé e láááá do alto, em vez do campo, eu via a cidade inteira de concreto armado, recheada de casas e alguns prédios que começavam a parecer.
Ainda posso sentir aquelas bolinhas pretas estourando na minha boca. Infância boa e privilegiada para quem morou na cidade grande. Um tempo que não voltará nunca mais e alguns personagens dessa história já estão indo embora para nunca mais voltarem também.
Recentemente, a dona do pé de jabuticaba faleceu.
Ela era mais do que aquela tia que a gente só vê nas festas de fim de ano. Ela era a única tia que conseguia me levar para passear, ou passar um mês inteiro de férias na casa dela, sem que eu chorasse de saudades dos meus pais. Um dos filhos dela foi o irmão da mesma idade que eu não tive e com quem dividi a infância empinando pipa, jogando pião, andando de carrinho de rolimã e descendo um morro de grama gigante sentados num papelão que virava só o pó quando a gente chegava lá embaixo todo esfolado.
Hoje, esse meu primo-irmão está arrasado e junto com ele também perdi uma mãe. Andei fazendo aquelas perguntas que, de vez em quando, a gente se pega fazendo:
“Qual é o sentido da vida?”.
A gente nasce e, dependendo do berço, a gente não vive, sobrevive. Luta, luta, luta e paga as contas no fim do mês. Isso quando consegue pagar, porque ocorre algum imprevisto pela frente, a gente recorre ao banco, se afoga em juros e não consegue fazer a roda girar para continuar sobrevivendo, porque se vê com lama até o nariz sem sequer conseguir respirar direito. E depois? Depois morre e não viveu como queria ter vivido.
Estou pessimista? Não! Realista.
Mas só você tem a escolha de ter um sentimento diferente diante dos obstáculos ou de um resultado que não era o esperado. Eu digo “que bom que a gente tem problemas”, porque é sinal de que ainda estamos vivos. A questão é o que você vai fazer com esses problemas? Vai só reclamar ou vai rir e tentar resolver como pode?
Se existe uma coisa que produtor(a) rural tem é a fé de plantar ou criar sabendo que vai colher lá frente. É a paciência – e que paciência meu Deus – para esperar colher. É a resiliência de voltar a ficar de pé depois de um desastre climático. E aí eu olho para você, que é do campo, eu sinto vergonha de mim quando me pego pensando qual é o sentido da vida.
Não existe propósito mais bonito do que uma classe que trabalha para ajudar a alimentar pessoas, que vive para dar continuidade à vida. E olhando de volta para mim, eu me orgulho por, de algum modo, tentar ajudá-los nesta caminhada levando informação e conhecimento de especialistas do setor. Obrigada por existirem. Eu larguei mão do jornalismo generalista há 17 anos porque não queria mais falar de desgraça. Eu optei por falar sobre crescimento, sobre produção e prosperidade.
Você, que é produtor(a), têm dificuldades, claro que tem. Sabe aquela gente que fala mal de você? Perdoe, porque a maioria não tem conhecimento sobre o que está falando e precisamos educá-los com amor. Sabe aquele probleminha no banco? Eu sei que você deve, que não nega e que vai pagar quando puder.
Não deixe isso tirar o seu sono, não. Não deixe isso tirar a sua alegria. E comemore cada pequena vitória. Deite a sua cabeça no travesseiro em paz, porque se eu vivo e quase um bilhão de pessoas vivem é porque você, só você, nos alimenta.
Tenho certeza de que a minha tia foi feliz. Sabe por quê? Porque ela ria de tudo – até mesmo da desgraça.
A vida é um sopro. Produtor(a) rural, ou quem quer que seja você e passe por atribulações, seja feliz agora!!!
Lilian Dias é comunicadora Agro, possui MBA Executivo pela ESPM, com foco em habilidades de gestão de pessoas, práticas de liderança e marketing. É autora do e-book "Os Pilares do Agronegócio". Site: www.liliandias.com.br - Instagram: @jornalistalilian - E-mail: contato@liliandias.com.br
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