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Agricultura orgânica: o que é e como produzir alimentos orgânicos?

Article-Agricultura orgânica: o que é e como produzir alimentos orgânicos?

Agricultura orgânica: o que é e como começar a produzir alimentos orgânicos
Com modos de produção mais sustentáveis, a agricultura orgânica vem ganhando cada vez mais adeptos no Brasil. Mas, para ter a certificação de produtor de alimentos orgânicos, é preciso adotar algumas práticas. Entenda neste artigo!

Demanda cada dia maior dentro do mercado consumidor, a agricultura orgânica começa a chamar cada vez mais a atenção dos produtores, que passam a utilizar modernas tecnologias e estratégias para produzir mais e melhor.

Dados mais recentes do Ministério da Agricultura indicam que existem cerca de 24 mil produtores no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos. Esse número mais do que triplicou em uma década. Em 2012, havia no país quase 5,9 mil produtores registrados.

Para entender mais sobre esse mercado promissor, conversamos com José Antônio Azevedo Espindola, pesquisador da Embrapa Agrobiologia, e Cobi Cruz, diretor da Organis — Associação de Promoção dos Orgânicos.

Com vasta experiência na área, estes profissionais farão uma abordagem completa sobre a agricultura orgânica, explicando suas características, vantagens e, ainda, compartilhando dicas para quem deseja começar a produzir alimentos orgânicos. Confira!

O que é agricultura orgânica?

A agricultura orgânica é um conceito que reúne filosofia, ciência e variadas técnicas de produção de vegetais para alimentação e outros usos. Segundo Cobi Cruz, esse tipo de agricultura é extremamente comprometido com práticas sustentáveis de tudo que se relaciona com a produção.

“Agricultores que priorizam a produção de alimentos orgânicos levam em conta não apenas a saúde de quem produz e consome, mas a manutenção de todo o ecossistema, aí incluídos animais, terra, ar e água”, explica Cruz.

Mas, para melhor entender o que é agricultura orgânica, José Antônio Espindola indica o que diz a legislação, definida pela Lei n° 10.831, de 23 de dezembro de 2003:

“Segundo esta lei, os sistemas orgânicos de produção são aqueles em que se adotam técnicas relativas à otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais”, esclarece o especialista.

Desta forma, a agricultura orgânica contribui não só para a sustentabilidade ambiental, mas também traz benefícios sociais e minimiza a dependência de fontes de energia não renovável.

Assim, sempre que possível, na produção de alimentos orgânicos são utilizados métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de insumos sintéticos.

Também não é permitido, na agricultura orgânica, o uso de organismos geneticamente modificados, conhecidos como transgênicos, e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização.

Produção de alimentos orgânicos

Quais as principais características da agricultura orgânica?

Muitos produtores acham que essa atividade é decorrente de receitas prontas que, quando seguidas, garantirão o sucesso. Mas não é bem assim!

Para Cobi Cruz, não há uma receita genérica dentro da agricultura orgânica, visto que é necessário considerar as características locais. “Topografia, tipo de solo, histórico de usos, regime de águas, clima, fauna/flora locais e escolha das culturas precisam ser muito bem conhecidos para que se possa produzir sistematicamente”, explica.

Além do mais, os sistemas orgânicos de produção devem priorizar a utilização de materiais de propagação, como sementes e mudas, originários de plantas adaptadas às condições locais e tolerantes a pragas e doenças.

As práticas de manejo do solo, por sua vez, devem favorecer a adição de materiais orgânicos às áreas cultivadas, como compostos, adubos verdes, bem como materiais de origem mineral com reduzida solubilidade e com liberação lenta de nutrientes para o solo, como os pós de rocha.

Ainda com relação ao manejo do solo, José Antônio Espindola explica que o produtor deve buscar a redução de seu revolvimento. “Sempre que possível, o produtor deve adotar práticas sustentáveis como o plantio direto e o cultivo mínimo”, recomenda.

Portanto, as estratégias de manejo de pragas e doenças, na produção de alimentos orgânicos, devem respeitar o meio ambiente e a saúde humana, privilegiando métodos culturais, físicos e biológicos.

Quais são as vantagens da agricultura orgânica?

Aplicada na produção dos mais diversos alimentos, com destaque para hortaliças, frutas, cana-de-açúcar, café, soja e palmito, dentre outros, a agricultura orgânica garante uma série de vantagens ambientais, econômicas e mercadológicas.

Dentre as vantagens da agricultura orgânica, podemos citar:

  • Preservação dos recursos naturais;
  • Diversificação dos ambientes agrícolas;
  • Favorecimento da saúde de consumidores e de trabalhadores rurais;
  • Produtos mais saudáveis para consumo.

Além disso, o pesquisador da Embrapa salienta que a produção de alimentos orgânicos oferece maior valorização no processo de comercialização. “A agricultura orgânica favorece melhores condições de vida para os agricultores, em especial para agricultores familiares e de pequeno porte”, afirma.

Essa vantagem também é apontada por Cobi Cruz. Segundo o diretor da Organis, a agricultura orgânica parece ter sido criada sob medida para as pequenas e médias propriedades familiares. “Ao produzir alimentos com maior valor agregado e fugir da disputa desigual com a chamada ‘indústria agrícola de exportação’, ela aumenta os lucros das propriedades”, observa.

Mas isso não significa que a metodologia orgânica não possa ser aplicada a grandes propriedades. “Não há nada que impeça esse salto qualitativo em termos práticos ou científicos. Estamos diante de um problema mais cultural do que qualquer outra coisa e os avanços na consciência ambiental são constantes”, complementa Cruz.

Há muitos exemplos, inclusive, de grandes produtores brasileiros que aderiram à produção orgânica com grande sucesso, inclusive no âmbito internacional.

Produtor de alimentos orgânicos

Como se tornar produtor de alimentos orgânicos?

“O olho do dono é que engorda o porco”, já ensinavam os antigos do campo. Como já disseram Cruz e Espindola, a produção de alimentos orgânicos exige cuidados especiais e atenção a diversos detalhes.

Portanto, nada mais lógico que a agricultura orgânica seja praticada por quem tem vínculos e comprometimento com sua propriedade e com as pessoas que nela vivem e trabalham.

Exatamente pela necessidade desses cuidados, a agricultura orgânica está intimamente relacionada aos produtores familiares.

“Essa possibilidade de administrar de perto a produção de itens com maior valor agregado é uma grande vantagem competitiva de agricultores familiares e certamente aumenta a lucratividade média das pequenas áreas”, garante Cruz.

Mas, para que se inicie uma produção de sucesso, é dever do agricultor seguir alguns passos importantes.

1. Conheça a produção de alimentos orgânicos

Inicialmente, o diretor da Organis diz que é fundamental buscar conhecimento. “A primeira providência é entrar em contato direto com alguém que já produz, para conhecer a realidade do setor, na prática, ao vivo, com cores, cheiros e sabores”, sugere.

Também é importante visitar os órgãos ligados às secretarias de agricultura municipais e estaduais. “Muitas delas, além de fornecerem informações importantes, inclusive cursos práticos, oferecem incentivos à produção orgânica, seja em apoio, crédito, compras diretas e outros”, diz Cruz.

2. Desenvolva um plano de negócios para a sua produção

Paralelamente, como em qualquer empreendimento, é importante elaborar um plano de negócios, que vai desde a escolha dos produtos, os custos, as possibilidades de distribuição até o conhecimento das necessidades, anseios e sonhos do consumidor e onde você pretende atuar para supri-las.

3. Busque a certificação de produtor de alimentos orgânicos

O passo seguinte é buscar uma certificadora e conhecer as normas para cada um dos três tipos de certificação do setor. E, a partir daí, buscar a certificação orgânica — que pode, inclusive, se aprovada, facilitar a exportação dos produtos.

Neste contexto, os produtos orgânicos são reconhecidos por Organismos de Avaliação da Conformidade Orgânica (OAC), que incluem as Certificadoras por Auditoria e os Sistemas Participativos de Garantia da Qualidade Orgânica, conhecidos como SPG.

“Cabe ao agricultor entrar em contato com este OAC que atua na mesma região e buscar todas as informações”, recomenda José Antônio Espindola.

No caso de agricultores familiares, pode-se formar uma Organização de Controle Social (OCS), solicitando cadastramento junto à Superintendência Federal de Agricultura Estadual ou do Distrito Federal, ligada ao MAPA ou em outro órgão público Estadual ou Distrital conveniado com este ministério.

Dessa forma, não basta apenas produzir e falar que o produto é orgânico. É preciso obter certificação e comprovar, então, que o alimento realmente é decorrente da agricultura orgânica, sendo produzido em conformidade com todas as regras desse sistema de produção.

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