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“O agro conectado é mais produtivo e inclusivo”: confira entrevista de Alexandre Dal Forno, do ConectarAGRO, para o Agrishow Digital

Article-“O agro conectado é mais produtivo e inclusivo”: confira entrevista de Alexandre Dal Forno, do ConectarAGRO, para o Agrishow Digital

Entrevista com Alexandre Dal Forno, da ConectarAGRO, para o Agrishow Digital
Membro do Conselho Administrativo da associação fala dos atuais desafios da conectividade no campo e explica por que ampliar o acesso ao 4G nas áreas rurais, antes mesmo do 5G, deve ser uma prioridade no setor

Em julho de 2022, a nova era da conectividade móvel chegou oficialmente ao Brasil: o 5G, que torna a transmissão de dados mais rápida e permite o desenvolvimento de outras tecnologias como inteligência artificial, Big Data e Internet das Coisas (IoT), também pode trazer ganhos significativos para diferentes setores da economia nacional nos próximos anos.

Esse avanço tecnológico representado pelo 5G, no entanto, contrasta com um obstáculo ainda presente na maior parte das regiões rurais do país: mais de 70% das propriedades no campo ainda não têm acesso à internet, o que torna o aumento da conectividade um dos principais desafios do setor.

A prioridade atual é ampliar a conexão 4G no campo, cuja frequência permite, na prática, uma maior cobertura do que o recém-implementado 5G seria capaz de viabilizar nas áreas rurais. Esse é um dos objetivos da Associação ConectarAGRO, que promove a expansão do acesso à internet nas regiões agrícolas do país.

Superar o desafio da conectividade, porém, também envolve uma jornada de transformação digital dos processos agrícolas. “Quanto antes se começar essa jornada digital com o 4G, mais rápido e mais pronto o produtor estará para surfar o futuro com o 5G”, afirma Alexandre Dal Forno, membro do Conselho Administrativo do ConectarAGRO e Diretor de Desenvolvimento de Marketing IoT e 5G na TIM Brasil.

Em entrevista para o Agrishow Digital, Dal Forno falou sobre os benefícios da conectividade rural do ponto de vista econômico, social e ambiental, destacando como o acesso à internet também é uma forma de promover a inclusão e a sucessão familiar no campo. Ele também explicou por que a conexão 4G é o modelo mais adequado para os projetos atuais de expansão da conectividade no agronegócio.

Confira, a seguir, a entrevista completa!

 

AGRISHOW DIGITAL: A chegada do 5G simboliza a inovação na questão tecnológica; mas, ao mesmo tempo, traz à tona todo o desafio que temos em relação à conectividade no campo. Na sua visão, quais são as principais consequências — tanto do ponto de vista produtivo quanto social e econômico — dessa baixa conectividade que ainda temos nas propriedades rurais?

ALEXANDRE DAL FORNO: O Brasil é um país de dimensões continentais, onde temos, hoje, quase 80 milhões de hectares de área produtiva, então o desafio de levar conectividade para essas regiões é muito grande. Em regiões mais próximas de grandes centros, ou com maior desenvolvimento econômico, onde os municípios são maiores, você acaba tendo a conectividade chegando naturalmente, porque a periferia vai crescendo as cidades, elas vão se juntando com a área rural e essa conectividade vai acontecendo.

O que não acontece em boa parte do Brasil produtivo — que é o Brasil do Mato Grosso, do Matopiba [região de fronteira agrícola que compreende o Cerrado dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia]: regiões mais distantes, onde há municípios de quase 200 quilômetros de extensão de ponta a ponta, e então a área urbana é mínima, é um ponto desse município. Quando você fala que cobre a área urbana [nesses casos], não cobre o município, não cobre essas áreas rurais, o que faz com que o desafio seja maior ainda.

A TIM tem feito um trabalho, há quase cinco anos, de buscar modelos de negócio que consigam atender a esses desafios. E nesses cinco anos, junto com as outras empresas do ConectarAGRO, criamos formas de levar a mensagem para o produtor rural e para as associações de que o agro conectado é mais produtivo — e eu costumo dizer, mais inclusivo.

"A transformação digital não é um ponto, é uma jornada. Então, a jornada tem que começar, e ela inicia normalmente com a chegada da conectividade, quando você consegue começar a digitalizar os seus processos."

Quando você leva conectividade, consegue entender o que está acontecendo em propriedades que têm, às vezes, dez quilômetros de extensão da sede até a ponta da fazenda. São distâncias enormes, onde é difícil conseguir fazer o controle e a gestão do que está acontecendo no plantio, em um trato, em uma colheita. Com a conectividade, você consegue conectar tudo isso — as máquinas, os sensores, as pessoas que estão fazendo a gestão disso, conseguindo trazer uma eficiência direta na operação.

Temos visto, pela nossa experiência, que o processo todo da conectividade chegando é um processo que inicia uma jornada digital. A transformação digital não é um ponto, é uma jornada. Então, a jornada tem que começar, e ela inicia normalmente com a chegada da conectividade, quando você consegue começar a digitalizar os seus processos.

E, nessa digitalização dos processos, é fundamental ter funcionários com mindset digital. Quando você trabalha com a conectividade, muitas vezes levada por um grande produtor que resolve investir nela, ele [o produtor] beneficia não só a si próprio com o aumento da gestão e da produtividade, mas também quem mora no entorno. Muitas vezes, os funcionários que moram no entorno é que começam a ter acesso à conectividade e a serem inseridos nesse novo mindset.

Todo o ecossistema em torno daquela região ganha. Ganha com o aumento da produtividade, com toda essa jornada e transformação digital do negócio, mas também ganham os funcionários — os filhos, a família do funcionário.

Por isso que eu costumo dizer que o agro conectado é mais produtivo e inclusivo; porque ele traz essa inclusão social, independentemente de haver Wi-Fi ou não na fazenda. Você tem um chip pré-pago ou pós-pago e, com ele, acessa a internet, seu filho também acessa, e você tem acesso ao mundo. Hoje a “janelinha” que, antes, era desse tamanho — estou no computador aqui — agora é desse [tela do celular]. Os filhos dos funcionários das fazendas e a família toda começa a ter acesso a isso tudo, e eu entendo que isso é a transformação de uma região como um todo.

"(...) o agro conectado é mais produtivo e inclusivo; porque ele traz essa inclusão social, independentemente de haver Wi-Fi ou não na fazenda."

Temos uma experiência do nosso primeiro cliente, que é do interior de Goiás (Goianésia). O primeiro projeto era cobrir as áreas produtivas, só que o diretor-presidente de lá, que é um visionário, disse, eu quero também que vocês tragam o 4G para a cidade; quero que a região tenha o 4G que vou ter na minha área produtiva, porque preciso que a região cresça. Foi o que a gente fez: levamos para as áreas produtivas e para a cidade — que, na época, só tinha o 2G de outra operadora.

Hoje, Goianésia tem o 4G em toda a cidade, em toda a área produtiva [do cliente], e a gente percebe que mudou. Fizemos recentemente alguns programas mostrando o impacto da conectividade na região, e aí mostra justamente um motoboy falando o quanto a conectividade mudou a vida dele, que antes ele tinha que ir para um local e não sabia como chegar, tinha um monte de referência, “depois do poste tal, a porteira X, Y, Z”. Agora ele usa o Waze, consegue falar com quem vai receber a entrega, mudando completamente a dinâmica.

Então, eu acho que é uma transformação total. Não somente da parte de produção — que é fundamental, produzir mais e melhor com a mesma área —, mas ao mesmo tempo você está fazendo com que todo esse entorno das fazendas mude, e mude para melhor. Podemos falar de várias coisas. O próprio êxodo rural: quando você leva a internet para um sítio, traz interesse para o filho do dono, de repente, fazer alguma coisa lá e não sair.

 

AD: Pode ser uma forma de ajudar, inclusive, na sucessão familiar da propriedade rural, não?

ADF: Exatamente. Isso a gente tem visto em vários níveis. No nível do grande produtor, em que às vezes, para o filho, aquele processo agrícola tradicional passa a não ser um negócio tão interessante; mas, quando começa a trazer a digitalização, aquilo passa a ser meio gamificado, a ficar muito mais interessante. E só isso já garante um interesse maior na sucessão, que é um grande problema hoje do agro.

Quando analisamos médios e pequenos produtores, mais ainda [a conectividade ajuda], porque você tem hoje a possibilidade de, com a conectividade, tornar o seu produto nacional, adicionar valor a ele de alguma forma e passar a vender isso através de um comércio eletrônico, um aplicativo ou o que for. Já vi várias famílias investindo na qualidade da cachaça do interior de Minas e de outros estados, e justamente fazendo com que os filhos e esposas se interessem por aquele negócio, que na verdade está sendo exportado para o mundo todo porque tem acesso à internet.

Há vários estudos que mostram que a conectividade, aonde chega, muda a região. E antigamente ela era fixa; agora, a conectividade móvel te coloca onde você quiser. Então um 4G, daqui a pouco um 5G, resolve um problema que antigamente só se resolvia com a fibra chegando ao seu endereço.

"O 5G está chegando através de uma frequência mais alta, de 3.500 MHz. Ela é muito alta para o campo, porque cobre uma área muito menor, então precisaria de muito mais antenas, muito mais torres para cobrir a mesma área. Não há um custo efetivo, hoje, para o uso do 5G no campo."

Conectividade no campo

AD: E quais seriam os próximos passos para aumentarmos a conectividade? Temos esse referencial maior, que é o 5G, mas o desafio primeiro é aumentar a conectividade 4G no campo. Quais já seriam os ganhos só com essa transição para o 4G?

ADF: Essa pergunta é muito boa porque, na verdade, o que acontece é que você tem um processo agrícola totalmente desconectado, ou parcialmente conectado. E isso tem muito no interior de São Paulo, por exemplo: regiões com conectividade e outras não. Então, você tem uma gestão parcial das coisas, ou nenhuma gestão.

Nós, como ConectarAGRO, temos uma bandeira muito associada aos 700 MHz, e hoje o 4G é a tecnologia que usa essa frequência para o campo e as cidades. É a melhor frequência para cobrir o campo. Quanto menor é a frequência que você usa, maior é a cobertura. Isso significa que você precisa investir menos para abrir uma maior área. Como o nosso desafio hoje no agro é cobrir para poder levar a conectividade para as máquinas, a operação, os sensores que estão no campo, quanto maior a cobertura, melhor. Logo, quanto menor a frequência que eu estiver utilizando, melhor a tecnologia.

O 5G está chegando através de uma frequência mais alta, de 3.500 MHz. Ela é muito alta para o campo, porque cobre uma área muito menor, então precisaria de muito mais antenas, muito mais torres para cobrir a mesma área. Não há um custo efetivo, hoje, para o uso do 5G no campo.

Só que a primeira frequência que foi liberada do 4G era de 2.600 MHz, e ele veio sendo utilizado em outras frequências [mais baixas] até chegar hoje aos 700 MHz. Isso vai acontecer com o 5G, com certeza. A TIM tem feito trabalho de pilotos: tivemos um piloto do 5G no campo lá no Instituto Mato-Grossense do Algodão [IMAmt]; fizemos também uma fazenda conectada no Piauí; e estamos trabalhando para entender como o 5G vai se posicionar no agro.

O 5G traz três características fundamentais: a primeira delas é a altíssima velocidade de transmissão — estamos falando de Gigabits por segundo; a segunda é a baixíssima latência, que é o tempo que, por exemplo, o comando chega ao servidor que está na nuvem e volta para a máquina — no caso, estamos falando de alguns milissegundos; e o último pilar que são milhares de dispositivos conectados por quilômetro quadrado, então você tem o que chamamos de “IoT macio”.

"A evolução do 5G é inevitável. Ela vai acontecer e está acontecendo, e vai chegar ao campo nos próximos anos. Mas, neste momento, não precisa haver todo esse investimento para resolver os problemas [de conectividade no campo]."

Essas três características que o 5G traz com certeza vão ser muito utilizadas no agro no futuro, porém, nesse momento, estamos em um processo de instalação do 5G nas principais capitais. Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, João Pessoa, Belo Horizonte — em todas as capitais que a Anatel já liberou instalamos o 5G, e com uma qualidade muito boa e uma cobertura muito grande. No Rio de Janeiro, São Paulo e em Curitiba, colocamos o 5G em todos os bairros da cidade. Mas, nesse momento, estamos trabalhando com o 5G para o campo em casos que, no futuro, vão precisar dele.

Hoje, em quase todos os casos de uso no campo, o 4G atende perfeitamente bem. Então não há necessidade, ainda, das características do 5G para operar no campo. Obviamente isso está evoluindo, e juntamente com a aquisição dos casos de uso — que são câmeras de altíssima resolução, de 8K, transmitindo em um drone em tempo real. Só que, hoje, não há uma necessidade disso: na maior parte das aplicações de drone, você grava as imagens e depois as transmite, ou depois manda um pen drive e traz para a sede. Estamos trabalhando com a realidade de hoje, que atende e resolve o problema do produtor rural, que é o 4G. Mas não estamos deixando de lado a evolução. A evolução do 5G é inevitável. Ela vai acontecer e está acontecendo, e vai chegar ao campo nos próximos anos. Mas, neste momento, não precisa haver todo esse investimento para resolver os problemas [de conectividade no campo].

O que costumo dizer é que um bom consultor, a empresa que faz um bom trabalho dá a solução correta. Não adianta você dar uma solução que é up-to-date em termos de tecnologia e que, na verdade, você vai gastar muito mais e vai resolver da mesma forma o problema.

 

AD: Você disse que, com certeza, daqui a alguns anos o 5G vai evoluir a ponto de atender às necessidades da propriedade rural. É possível dizer em quantos anos isso vai acontecer? É uma realidade mais distante ou parece mais próxima?

ADF: Podemos pensar em um pouquinho de história. Quando você prevê o futuro, é bom que você olha para trás e um pouco para a frente. O 4G tem mais ou menos cinco, seis anos hoje no Brasil. E a TIM está chegando a 100% dos municípios do país com o 4G agora, até meados do ano que vem. Então você vê quanto tempo demorou para o 4G chegar em todos os municípios — estou falando de área urbana. Porque são modelos de negócios vinculados a densidades de pessoas.

Eu entendo que, se formos olhar para trás e entender o quanto o 2G resolveu esse problema e [em comparação com] o 3G, foi muito mais tempo. Então esse tempo está encurtando, porque as demandas estão aumentando — a necessidade por mais banda, por outras aplicações. Esse tempo tecnológico está reduzindo. Ao mesmo tempo, a questão dos celulares: a troca dos smartphones 3G para 4G demorou alguns anos. Estamos vendo que, com o 5G, está sendo muito mais rápido; para acessar o 5G, você precisa do smartphone que já seja compatível. Então, entendo que o tempo de adoção e o período vão ser mais rápidos, a chegada do 5G às cidades menores vai ser mais rápida e, por sua vez, o 5G chegando às propriedades rurais também vai ser mais rápido.

Mas há um ponto importante: o grande desafio da digitalização do agro não está na tecnologia — 4G, 5G ou 6G. Está nos processos agrícolas, na digitalização dos processos. Quanto antes o produtor rural levar conectividade para a sua área produtiva e começar a digitalizar seus processos, quando o 5G chegar ele vai “voar”. Se ele esperar o 5G chegar para começar, não vai aproveitar nada do 5G, ou vai aproveitar 10%, porque ele não vai estar pronto e os processos precisam ser digitalizados. E trabalhar nessa jornada [de digitalização dos processos] é muito complicado, porque você trabalha com pessoas, tem que treiná-las. Tem que treinar os processos e treinar as pessoas. Então, quanto antes se começar essa jornada digital com o 4G, mais rápido e mais pronto o produtor estará para surfar o futuro com o 5G.

"[...] o grande desafio da digitalização do agro não está na tecnologia — 4G, 5G ou 6G. Está nos processos agrícolas, na digitalização dos processos."

Ampliação da conectividade permite inserção de novas tecnologias no agro

AD: Muito se fala, também, do papel cada vez maior do Brasil na promoção da segurança alimentar: quanto mais a população mundial aumenta, mais o país cresce em importância como fornecedor de alimentos. Então, a digitalização dos processos agrícolas também tem que acompanhar essa evolução do papel do Brasil na segurança alimentar, não é?

ADF: Exatamente, e aí tem várias questões que poderíamos levantar. A primeira delas é essa que você falou da própria segurança alimentar, de produzir mais com a mesma área e conseguir ser mais eficiente; e a segunda tem a ver um pouco com as exigências do próprio cliente, de quem está comprando, que está exigindo rastreabilidade, informações do que está acontecendo no processo produtivo.

Para ter isso de forma realmente rastreável, você precisa ter conectividade também. Você precisa ter processos digitais; a “bula” do produtor rural tem que ser digitalizada. No mínimo ela tem que ir para um tablet, para a nuvem, para poder facilitar esse processo de o produtor mostrar que ele está em conformidade com o que o cliente quer.

São esses dois vieses que acabam “empurrando” o produtor rural para esse processo, que é inevitável. Eu posso dizer que em todos os setores a digitalização é inevitável, e a pandemia nos mostrou isso claramente, que é um caminho sem volta. A digitalização traz, obviamente, várias situações para a gente tratar, mas resolve muito da gestão, da qualidade do serviço prestado, de você conseguir monitorar o que está acontecendo com o que pediu. Hoje, você consegue ter uma qualidade de entregas do que compra que era inimaginável antes da pandemia. Acho que isso vai acontecer também nos processos agrícolas, onde você começa a ter um controle em tempo real, a tomar decisões em tempo real de parar ou acelerar alguma atividade, e aproveitando essa digitalização para melhorar seus resultados.

"Eu posso dizer que em todos os setores a digitalização é inevitável, e a pandemia nos mostrou isso claramente, que é um caminho sem volta."

 

AD: A conectividade também contribui muito nesse processo de implementação da agricultura de baixo carbono, não?

ADF: Sem dúvida. Estava, esses dias, falando com uma usina de cana, e eles mencionaram justamente os CBios [Créditos de Descarbonização], que são uma “calculadora”, quando você começa realmente a ver o quanto economizou e tudo mais, a ter informações reais do quanto você está deixando de impactar o meio ambiente.

E aí tem outros pontos. A questão do uso controlado da adubação, onde se aplica a agricultura de precisão definindo regiões que você precisa realmente adubar e outras não, então você começa a trabalhar de uma forma que agrida menos o meio ambiente.

Um ponto que medimos recentemente é a sobreposição de pulverização, onde a conectividade tem impacto direto. Em uma plantação de algodão, por exemplo, onde o pulverizador entra 15 ou mais vezes no campo durante todo o crescimento da planta: ao conseguir desligar um e outro bico porque estão passando por uma região já pulverizada, você reduz muito o uso de defensivos. O que, por sua vez, tem dois grandes impactos: um na redução do custo, que é enorme, e outro é direto na questão da sustentabilidade. É menos defensivo que está sendo usado em uma região, e isso fala diretamente com tudo que preconizamos em relação à sustentabilidade.

 

AD: O que você acha que as empresas que atendem o setor agropecuário ainda podem fazer mais para ajudar a aumentar essa conectividade no campo? E como o ConectarAGRO está agindo para integrar os diferentes setores de toda a cadeia produtiva em torno desse objetivo?

ADF: Você tem empresas mais e menos inseridas nesse contexto. O ConectarAGRO, justamente, busca ajudá-las nisso. Obviamente é muito difícil, hoje, você encontrar alguma empresa que não concorde que a conectividade muda o cenário de produção rural. Porém, muitas vezes não se sabe como se inserir nesse contexto quando se produz algo que não está ligado diretamente à conectividade.

"Hoje temos um produtor rural fazendo um excelente trabalho, mas sempre analisando o que já passou. Ele faz o trabalho e, depois que termina, analisa e vê o que no ano que vem pode fazer melhor, na próxima safra, mas não consegue — muitas vezes por não ter a informação imediata — ter insights em tempo real, fazer a tomada de decisão naquele momento."

Eu acho que o ConectarAGRO pode ajudar nesse sentido de entender o propósito dessas empresas e ver o quanto desse propósito está alinhado com o nosso. E acho que, quando trazemos — e a associação do ConectarAGRO tem essa característica — empresas de diferentes setores — do agro, tecnologia, telecomunicações, de insumos — que estão todas lutando pelo mesmo propósito, mas com vieses diferentes, temos uma multidisciplinaridade que ajuda muito para esse objetivo acontecer de verdade.

Por exemplo: em uma empresa de insumos, conseguir uma aplicação do insumo de forma mais eficiente, tanto por questão de custo quanto de sustentabilidade, faz muito sentido. Ao mesmo tempo, isso impacta diretamente nas máquinas agrícolas, que estão fazendo a aplicação daquele insumo. Também há a conectividade por cima, os sensores que fazem, por exemplo, a medição da umidade de solo, ou da própria estação meteorológica que aponta se choveu, se não choveu, se está ventando.

"Quando você junta a cadeia produtiva em um propósito grandioso que é levar a conectividade para o campo, em que todos os entes dessa cadeia do agro vão se beneficiar mutuamente, estamos trabalhando em algo que vai muito além de concorrência, inclusive."

Então os processos agrícolas têm uma conexão entre si — que, hoje, eu diria que estamos buscando que realmente se conectem. A conectividade, sem dúvida, é o primeiro passo, porém você vai precisar ter algo a mais, que são as plataformas se conectando realmente. Plataformas de máquinas, insumos, sensores, com informações meteorológicas e tudo mais, de forma a dar mais informação e insights para o produtor rural conseguir trabalhar no seu processo agrícola durante o plantio atual, por exemplo, e não no próximo.

Hoje temos um produtor rural fazendo um excelente trabalho, mas sempre analisando o que já passou. Ele faz o trabalho e, depois que termina, analisa e vê o que no ano que vem pode fazer melhor, na próxima safra, mas não consegue — muitas vezes por não ter a informação imediata — ter insights em tempo real, fazer a tomada de decisão naquele momento.

Quando você junta a cadeia produtiva em um propósito grandioso que é levar a conectividade para o campo, em que todos os entes dessa cadeia do agro vão se beneficiar mutuamente, estamos trabalhando em algo que vai muito além de concorrência, inclusive. Porque, na verdade, todo mundo se beneficia. Quem se beneficia é o produtor rural, é o país produzindo mais. Produzindo mais, ele compra mais máquinas, mais softwares, mais tecnologia. Acaba virando uma espiral positiva disso tudo.

Para conferir mais entrevistas com especialistas do agronegócio, assista aos episódios do Agrishow Conecta no YouTube da Agrishow!

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