Com o avanço das medidas ESG, você provavelmente já se deparou com o termo crédito de carbono, que é uma das iniciativas sustentáveis adotadas pelas empresas.
Basicamente, um crédito de carbono é um certificado que representa uma tonelada de carbono que deixou de ser emitida para a atmosfera, contribuindo com a diminuição do efeito estufa.
Mas, o termo é muito mais complexo que isso e merece ser conhecido pelo agronegócio. É preciso entender o que são estes certificados, como eles são comercializados e quais são seus desafios.
O que é um crédito de carbono?
De forma resumida, o crédito de carbono é a “moeda” utilizada no mercado de carbono. Estes créditos surgiram como conceito a partir do protocolo de Kyoto, em 1997, para compensar as emissões de GEE.
“Em geral, cada unidade de crédito de carbono é igual a uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) ou seu equivalente em outros gases que deixou de ser emitida”, explica Lucas Pimenta, fundador e CEO da Folha de Louro, que é uma Climate Tech focada em Assessoria ESG.
Estes créditos são certificados por agências reguladoras e resultam de projetos de mitigação da emissão de gases do efeito estufa, como reflorestamento, energia renovável e eficiência energética.
Para comercializar estes créditos, existe o mercado de carbono. Este é um mecanismo financeiro criado para transformar a sustentabilidade em um ativo econômico, tornando práticas ambientalmente positivas também financeiramente viáveis.
“Sem essa abordagem, a sustentabilidade poderia não ser tão amplamente adotada, pois poluir ou desmatar é muitas vezes economicamente vantajoso”, complementa Pimenta.
Como comercializar créditos de carbono?
No cenário atual, onde a sustentabilidade é tema central nos planos de negócios das empresas, muitos países e regiões têm adotado políticas para controlar as emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Isso levou à criação de sistemas de "cap and trade" (limitação e comércio) ou limitação de emissões para várias indústrias. Empresas nessas áreas são atribuídas com cotas de emissão - um limite máximo de GEE que podem emitir. Essas cotas fazem parte do mercado regulado.
Assim, Lucas Pimenta destaca que as empresas que excedem suas cotas de emissão no mercado regulado podem comprar créditos de carbono para compensar suas emissões excedentes.
“Esses créditos são originados de projetos de redução de emissões, como reflorestamento, energia renovável, ou captura de metano de aterros sanitários. Enquanto isso, empresas que conseguem reduzir suas emissões abaixo de suas cotas podem vender créditos excedentes”.
Há também o mercado voluntário de carbono. Neste mercado, empresas e indivíduos podem optar por compensar suas próprias emissões de GEE, mesmo que não sejam obrigados por regulamentações.
“No mercado voluntário, as empresas podem comprar créditos de carbono para compensar suas emissões como parte de seus esforços de responsabilidade ambiental ou para atender às demandas dos consumidores que valorizam a sustentabilidade”, salienta o fundador e CEO da Folha de Louro.
Por exemplo, uma fábrica com cotas reguladas de emissão que emite mais carbono do que sua cota permitida pode adquirir créditos de carbono de uma fazenda que captura carbono por meio do plantio de árvores.
Isso permite à fábrica compensar suas emissões excedentes, enquanto a fazenda é recompensada financeiramente pelos créditos gerados pela redução de emissões.
“Tanto o mercado regulado quanto o voluntário oferecem oportunidades para empresas compensarem suas emissões de GEE e incentivam a implementação de práticas mais sustentáveis, seja por necessidade de cumprir regulamentações ou por iniciativa própria em direção à sustentabilidade”, complementa Pimenta.
Agronegócio: grande beneficiado do mercado de carbono
Já faz algum tempo que o agronegócio vem adotando várias estratégias e manejos para tornar a produção mais sustentável e ambientalmente limpa.
Neste contexto, Lucas Pimenta explica que as práticas sustentáveis, como o manejo florestal, plantio direto, agricultura regenerativa, plantas de cobertura, agroflorestas, são algumas das técnicas agrícolas de baixa emissão de carbono, que podem resultar também na geração de créditos de carbono.
“Esses créditos representam uma valiosa moeda no mercado de carbono e podem ser vendidos, transformando-se em uma nova e significativa fonte de receita para os produtores”.
Segundo o especialista, essa oportunidade de comercializar créditos de carbono tem um impacto substancial no setor agrícola. “Produtores são incentivados não só a adotar métodos mais ecológicos, mas também a considerar a geração de créditos de carbono como parte integral de sua produção”.
Pimenta destaca que isso não se limita mais à plantação tradicional de culturas como soja, milho ou café, mas inclui a visão de que cada cultivo também representa uma oportunidade de sequestrar carbono da atmosfera.
“É como se, além de cultivar alimentos ou culturas comerciais, os produtores estivessem também cultivando um ativo ambiental valioso: o carbono”.
Por consequência, essa nova perspectiva contribui para a mitigação das mudanças climáticas e também fortalece a posição dos produtores no mercado ao diversificar suas fontes de renda e promover práticas mais sustentáveis e lucrativas.
“É uma mudança de paradigma onde o campo agrícola se transforma não apenas em um local de produção, mas em um importante ativo na luta contra as mudanças climáticas”, salienta Pimenta.
Apesar das possibilidades, ainda há desafios!
Como destacado por Lucas Pimenta, muitas são as possibilidades da comercialização de crédito de carbono para agentes do agronegócio. No entanto, há alguns desafios que ainda precisam ser superados.
Para o Brasil, um dos maiores desafios é a falta de compreensão das empresas sobre o assunto, bem como a necessidade de levar projetos até o fim, dentro do prazo e com custo satisfatório, para que possam se transformar em recursos financeiros no futuro.
Outro desafio destacado por Pimenta é a ainda baixa padronização dos créditos e a criação de regulamentações claras. “Esses são fatores que certamente afetam a credibilidade desses créditos no mercado nacional”, afirma.
No entanto, o CEO da Folha de Louro ressalta que há uma tendência positiva, já que empresas e governos estão cada vez mais focados na sustentabilidade.
“O futuro parece promissor, com uma crescente demanda por crédito de carbono e a participação do agronegócio pode ser crucial para reduzir as emissões globais de carbono”.
Para que isso se confirme, o mercado de carbono precisa se manter em constante evolução e aprimoramento, com a necessidade de regulamentações mais sólidas e práticas mais confiáveis para garantir a eficácia na redução das emissões.
Aproveite para conhecer quais são os incentivos e certificações sustentáveis e como eles ajudam produtores rurais
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