Prof.Dr. Rubismar Stolf
Professor Titular Departamento de Recursos Naturais e Proteção Ambiental Centro de Ciências Agrárias - UFSCar
“Um conceito ou uma definição errada de um problema pode levar a soluções erradas”. O conceito de compactação encontra duas aplicações principais: na engenharia agronômica e na civil.
Nesta última, em geral, deseja-se um solo compacto e sem grandes poros para maior resistência e baixa permeabilidade, evitando a mobilização do solo, infiltrações e erosões, sendo aplicado em barragens de terra, estradas, terraços de contenção de água e taludes. Na agricultura espera-se que o solo não se apresente compactado. Ambas as áreas buscam objetivos opostos: uma, aumentar a densidade do solo (civil), a outra, manter a densidade do solo a níveis baixos (agronômica).
A densidade do solo mede a concentração da massa do solo por unidade de volume. Na compactação as partículas se aproximam sob pressão e, com isso, aumentando a densidade. Dessa forma, induz-se a conclusão de que a densidade do solo é suficiente para definir o estado de compactação do solo agrícola o que não é totalmente correto.
Conceito do estado de compactação do solo agrícola
Os solos são compostos de espaços vazios, ou seja, poros de variados tamanhos, classificados em física do solo como macroporos (maiores de 0,05 mm de diâmetro) e microporos (igual ou menores de 0,05 mm). Os poros maiores são responsáveis pela dinâmica dos fluidos: pela rápida infiltração de água e difusão de ar (aeração do solo). Ao trafegar com veículos pesados na lavoura, sob pressão, esses espaços porosos tem seu volume diminuído. Contudo, os poros maiores, em especial, colapsam, reduzindo seu volume. Com a perda de macroporos ocorre redução da aeração do solo e portanto, do fornecimento de oxigênio para as raízes, reduzindo o volume das raízes e limitando o desenvolvimento da planta. Dessa forma o melhor indicador do grau de compactação é a macroporosidade (volume de macroporos/volume de solo. Há um consenso na literatura que em geral valores abaixo de 0,10 m3/m3 (10 %) limita a aeração da raiz, sendo considerado solo compactado.
Exemplificando: a porosidade total de um solo é 0,55 m/m3 (55 %); a macroposidade = 0,15 m3/m3 (15 %) e a microporosidade= 0,40 m3/m3 (40 %). Significado: 55 % do volume do solo é ocupado por espaços vazios, sendo 15 % por macroporos e 40 % por microporos (15+40=55). Como na compactação nos interessa a aeração, a macroporosidade indica, no caso, um grau baixo de compactação, sem problemas.
Como a medida da porosidade é relativamente trabalhosa e leva cerca de 10 dias para ser realizada, a UFSCar (1) desenvolveu uma equação para estimar a macroporosidade utilizando apenas a densidade do solo (Ds) e o teor de areia:
Macro = 0,693 – 0,465 Ds + 0,212 Areia
Exemplo 1: solo com densidade 1,40 e 0.20 de areia resulta macroporosidade = 0,085 (8,5 %)
Exemplo 2: solo com densidade 1,60 e 0.80 de areia resulta macroporosidade = 0, 156 (15,6 %)
Como conclusão: o solo com a maior densidade é bem arejado e não possui problemas de compactação, enquanto que o com menor densidade é o que possui problemas, necessitando ação corretiva de descompactação. Dessa forma demonstra-se que não basta a densidade do solo para definir o grau de compactação, sendo necessária a associação da textura do solo, representada pelo teor de areia, conforme a equação apresentada acima.
(1) STOLF, R.; THURLER, A. M.; BACCHI, O. O.S.; REICHARDT, K. Method to estimate soil macroporosity and microporosity based on sand content and bulk density. Rev. Bras. Ciênc. Solo. 2011, vol.35, n.2, pp.447-459.
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