Chegando ao fim do verão as chuvas começarão a se tornar menos regulares e o período de seca se tornará mais recorrente. Por isso, muitos pecuaristas já começam a preparar sua silagem para alimentar o rebanho durante o período.
Considerada uma das estratégias mais interessantes para enfrentar o período da seca, a silagem, principalmente a de milho, é adotada por muitos pecuaristas. Mas sempre fica aquela questão: realmente vale a pena investir em silagem para alimentar os animais?
Apesar de suas significativas vantagens na alimentação animal no período das secas, a silagem é uma das forragens mais caras, além de necessitar de uma produção baseada em um planejamento bastante criterioso, o que, por muitas vezes, pode torná-la não vantajosa.
Para saber mais sobre as vantagens do uso da silagem de milho e as recomendações que devem ser seguidas para uma boa produção, conversamos com André Pedroso, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste e especialista no assunto.
Vale a pena produzir silagem? Faça contas para saber!
No meio pecuário a silagem sempre foi uma das melhores opções para garantir uma forragem de boa qualidade nutricional com boa aceitabilidade pelo gado no período das secas, mantendo bons níveis de produção.
Mas apesar de muito utilizada, a silagem, seja ela de milho, sorgo ou qualquer outro tipo, ainda é uma das forragens mais caras e, por isso, a decisão para a sua produção precisa ser planejada com muito critério.
“Às vezes a adoção não se justifica. Depende do tamanho e nível de produção do rebanho, da topografia, da capacidade de investimento em máquinas, entre outros fatores”, afirma Pedroso.
Assim, para tomar a decisão correta, o pesquisador da Embrapa ressalta que é preciso fazer contas antes de qualquer outra ação.
De acordo com o pesquisador, há situações onde o pecuarista pode adotar soluções mais baratas que atendam sua necessidade com eficiência. “Há situações em que é mais vantajoso o pecuarista optar pela cana-de-açúcar ou outro volumoso de custo mais baixo, priorizando uma alimentação de menor risco e menor custo”, diz.
Além disso, Pedroso alerta que nada adianta pensar em produzir uma silagem, considerada cara, se ela apresenta qualidade ruim quando oferecida aos animais.
Problemas mais comuns na produção de silagem de milho
Como já salientado, não será interessante - do ponto de vista econômico e de qualidade - produzir uma silagem se ela apresentar problemas durante sua produção que influenciem negativamente com sua qualidade.
Segundo Pedroso, um dos problemas mais frequentes na produção de silagem de milho está no uso do milho colhido antes da hora.
“Nessa situação, ocorre um processo conhecido como fermentação butírica, com um odor forte característico e corrimento de efluentes. As proteínas e energia da silagem se perdem e o animal não consome o alimento como deveria”, explica o pesquisador.
Outro problema comum relatado por Pedroso é a colheita tardia, ou seja, quando o milho apresenta teor de matéria seca muito excessivo. “Nesse caso haverá dificuldade na compactação, e muitas vezes a presença de bolsões de ar. Com isso, pode ocorrer a formação de mofo – visível ou não”, afirma.
Outro indicador desse problema é o aquecimento além do normal da silagem, provocando um processo chamado de “caramelização” do açúcar presente na forragem. Quando isso ocorre, se presencia alteração na cor da massa. “A silagem fica escura e exala um odor agradável, semelhante a chocolate, mas a qualidade é muito ruim”, reforça o pesquisador.
Como fazer uma silagem de milho de boa qualidade?
De acordo com o pesquisador da Embrapa, para que a silagem apresente a melhor qualidade possível é fundamental que todo o processo seja corretamente planejado e executado. Segundo ele, não se deve apenas planejar a colheita, a picagem ou o armazenamento, deve-se pensar e planejar tudo que envolve a produção da silagem.
“O pecuarista precisa ter consciência e produzir a lavoura de milho baseada boa qualidade, como se fosse para a produção de grãos mesmo. Uma lavoura de milho de baixa qualidade vai afetar a produtividade da silagem, aumentando o custo final do produto”, explica Pedroso.
Segundo o pesquisador, um dos cuidados que devem ser tomados é a correta definição do ponto de colheita. “O milho deve ser colhido quando a metade superior dos grãos está no ponto farináceo e a metade inferior ainda leitosa”, explica.
“Isto geralmente ocorre 30 dias após o “ponto de pamonha”, sendo que as palhas externas das espigas normalmente já se encontram amareladas e os grãos do meio das espigas estão dentados”, diz o pesquisador.
Depois de definido o ponto de colheita, o pesquisador explica que o produtor precisa estar atento ao maquinário que ele vai utilizar. “As máquinas devem estar bem reguladas para uma picagem uniforme. O tamanho das partículas deve ser entre 0,5cm e 1cm. Por isso as lâminas devem estar sempre bem amoladas”, explica.
O próximo passo é o enchimento e compactação do silo. Esse processo deve ocorrer da forma mais rápida possível, independentemente do tipo de silo que for utilizado. Além disso, a distribuição da silagem precisa ser constante, bem como a compactação de camadas finas. As camadas de milho picado devem ter no máximo 30 centímetros a 40 centímetros de espessura e todas precisam estar muito bem compactadas.
Portanto, a silagem pode sim ser uma ótima opção de alimentação para o gado, desde que sejam realizadas contas e os processos sejam criteriosamente bem planejados.
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