Você sabia que, de acordo com a ABRASS (Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja) aproximadamente 30% de toda a safra 2015/16 da soja brasileira foi semeada com sementes ilegais ou, como costumamos chamar, de “sementes piratas”?
Certamente, este é um número muito preocupante e deixa toda a agricultura nacional em estado de alerta, já que sementes sem procedência podem representar muita dor de cabeça para o produtor rural e para toda a sociedade agrária.
Muitos são os motivos que desencorajam o produtor a optar por esse produto, mas, mesmo assim, muitos ainda correm o risco e pagam “mais barato” por sementes sem procedência comprovada, ignorando completamente as consequências futuras do uso delas.
Para sabermos mais sobre os riscos e consequências do uso das sementes piratas, conversamos com Francisco Krzyzanowski, Presidente da ABRATES (Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes) e pesquisador da Embrapa Soja ((Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
O que são exatamente, as Sementes Piratas?
As sementes piratas consistem em grãos colhidos e revendidos de forma ilegal como semente, sem que se conheça a procedência ou o registro dos mesmos. A fiscalização é inexistente e não há recolhimento de impostos. O beneficiamento e o armazenamento, por sua vez, raramente são adequados - o que diminui a qualidade da semente.
Além disso, Krzyzanowski explica que elas são produzidas fora do sistema oficial brasileiro de produção de sementes. “Por esta razão, não apresentam origem conhecida, controle de geração e são comercializadas como grão”.
O crescimento do uso de sementes piratas ocorre quando os custos de produção estão elevados e os preços da soja não estão atraentes, assim os produtores rurais buscam economizar em todas as etapas da produção.
Na cabeça dos produtores a compra de sementes mais baratas é uma necessidade para economizar. No entanto, economizar justamente no plantio pode sair muito caro devido aos riscos a seguir apresentados.
Quais os riscos no uso de sementes piratas?
Todo produtor rural não quer colocar a colheita da sua lavoura em risco. Porém, o simples fato de plantar sementes piratas pode acarretar em diversos problemas produtivos, genéticos, fisiológicos e sanitários para o seu negócio. Krzyzanowski lista alguns:
- Sementes piratas não asseguram a pureza física, podendo conter em sua sacaria sementes de ervas daninhas nocivas à produtividade;
- Não asseguram a pureza genética de uma cultivar específica, podendo ter mistura de sementes de outras cultivares;
- Não asseguram a qualidade fisiológica, podendo apresentar baixo vigor e baixa taxa de germinação;
- Não asseguram a qualidade sanitária, podendo transmitir doenças via semente.
- Provocam redução significativa da produtividade.
Finalmente, Krzyzanowski cita o insucesso econômico durante a colheita como um grande problema.
"Em caso de insucesso na lavoura o agricultor não terá nenhum respaldo legal para a reparação do prejuízo financeiro que ele terá”. Essa garantia pode ser dada pela empresa caso sejam utilizadas sementes legais.
Questões mercadológicas e as consequências das sementes ilegais
Além do produtor rural, pode-se dizer que todos os outros envolvidos com a cadeia agrícola perdem bastante com o uso e com o comércio ilegal de sementes. O governo perde devido à evasão de impostos, os obtentores e a pesquisa também saem perdendo pelo não retorno dos royalties.
Segundo Krzyzanowski, o avançar do uso de sementes piratas (com não pagamento de royalties) provoca forte desestímulo por parte das empresas de biotecnologia ao programa de melhoramento genético das mesmas.
“O uso de sementes piratas põe em risco a renovação das cultivares (variedades) em cultivo, trazendo grande prejuízo para a agricultura nacional”, comenta o presidente da Abrates.
Por estas razões é preciso conscientizar o produtor brasileiro a valorizar as sementes legais, caso contrário haverá uma forte tendência das empresas se dedicando ainda menos à pesquisa no Brasil e resultando em graves prejuízos no futuro.
Sementes legais garantem distância dos problemas
É preciso alertar os produtores que, as sementes piratas trazem problemas para a lavoura, para o comércio, para o governo e para as empresas produtoras de tecnologia.
Portanto, é sempre recomendado que o produtor fique distante das sementes ilegais, buscando empresas idôneas, que ofereçam sementes certificadas.
Krzyzanowski lembra que as Associações Estaduais de Produtores de Sementes são excelentes fontes de referência para o agricultor selecionar fornecedores que ofertam sementes com garantia de qualidade.
Por fim, vale ressaltar que, segundo o código penal, é ilegal produzir, vender e comprar sementes piratas. Portanto, sempre que você se deparar com esse tipo de mercado ilegal, denuncie! A agricultura brasileira agradece.
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