Os pilares da Governança Corporativa são mais cobrados pela sociedade, que intensificou o hábito de pesquisar sobre produtos e empresas e tem a necessidade contínua de obter informações claras sobre vários aspectos de seu dia a dia.
Os quatro alicerces (transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade social), defendidos pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, ganharam, então, protagonismo nos últimos anos.
Essa abrangência já denota a complexidade e amplitude do tema Governança Corporativa, cuja definição versa sobre monitoramento saudável de ambiente, administração coerente de processos, posicionamento ético constante e, com o suporte do marketing, a criação de valores diversos, além do ganho visível de credibilidade.
A importância da Governança Corporativa, no entanto, vai além, uma vez que ela está totalmente associada a questões ambientais e sociais, sendo o "G" da sigla ESG. Tal amplitude foi muito bem estudada, dentro das organizações, pela consultoria Great Place to Work e pela Great People, que elaboraram o relatório Tendências de Gestão de Pessoas 2023. De acordo com o documento, o ESG foi destacado por 13,9% dos respondentes como tema prioritário de gestão de pessoas. O índice é baixo e ainda mostra uma frágil conexão das empresas com a sociedade, mas já indica uma tímida evolução dentro das organizações, uma vez que o número é superior ao registrado na pesquisa anterior (9,6%).
Outro estudo, realizado pela Amcham, aponta que 47% das empresas pesquisadas se consideram referência no tema ESG, o que pode inicialmente configurar uma contradição, se compararmos com o estudo da Great Place to Work. Mas, o fato é que a complexidade da Governança Corporativa é muitas vezes um fator limitante da implantação das práticas de ESG e, por conta de desconhecimento, muitas vezes não é implementada em sua magnitude.
Governança Corporativa no Agro - Em busca de investigar a Governança Corporativa especificamente no agronegócio brasileiro, realizei junto a USP/Esalq, como trabalho de conclusão de curso de MBA, um estudo que contou com a orientação da Profª. Dra. Alessandra de Cássia Romero e teve a participação de 117 profissionais de marketing de agronegócio, de vários segmentos.
Como principal resultado, o trabalho apontou que os profissionais que trabalham nas empresas do segmento de Defensivos Agrícolas são os mais comprometidos com as questões relacionadas à governança corporativa. Na sequência, aparecem os colaboradores do setor de Maquinários e Implementos Agrícolas e, na terceira posição, os funcionários das empresas de Nutrição Animal.
A pesquisa evidenciou que Defensivos Agrícolas é o único segmento que não apresenta déficit, quando comparamos a preocupação dos profissionais em cumprir as normas de governança corporativa (86,2%) com a realização efetiva de ações dos colaboradores para justificar a preocupação (os mesmos 86,2%). O cenário comprova o alto engajamento do setor de Defensivos Agrícolas com o tema governança corporativa. Os aspectos regulatórios e o crescente interesse da sociedade pelo processo produtivo são alguns dos impulsionadores.
Já em Maquinários e Implementos Agrícolas, há um déficit de 7,5%, uma vez que há 100% de preocupação em cumprir as normas, mas apenas 92,5% de ação efetiva dos colaboradores. Essa diferença é ainda maior no segmento de Nutrição Animal, que tem 96% de preocupação e 76% de realização de ações, ou seja, um déficit de 20%.
Outros segmentos do agro também foram convidados a participar da pesquisa, mas não tiveram adesão sólida, o que caracteriza um possível desinteresse pelo tema governança corporativa.
Governança corporativa e Marketing – O trabalho, realizado junto a USP/Esalq, também mapeou a possibilidade de marketing e governança corporativa atuarem de forma mais próxima, o que seria claramente um forte estimulo para diminuirmos o déficit entre preocupação em cumprir as normas de governança corporativa e a realização propriamente dita de ações.
Para 92,3% dos respondentes, essa maior aproximação é possível e, para 63% dos participantes, ela poderá ocorrer em até 05 anos.
Esse cenário de maior aproximação tende a ser um impulsionador da realização de ações para cumprir as normas de governança corporativa, uma vez que o marketing amplia a visibilidade, agrega credibilidade às normas e confere transparência no momento da criação das mesmas.
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(*) Com MBA em Agronegócios pela USP/Esalq Rodrigo Capella é Diretor Geral da Ação Estratégica (http://www.acaoestrategica.com.br), empresa de comunicação e marketing com ampla experiência no segmento de agronegócio. Pós-graduado em Jornalismo Institucional, Capella (como é conhecido no mercado de agronegócio) é autor de diversos livros e artigos sobre comunicação e marketing. Idealizador do projeto “Alertas do Agronegócio”, que leva demandas do setor para o Executivo e o Legislativo, e fundador do site Marketing no Agronegócio (www.marketingnoagronegocio.com.br).